segunda-feira, janeiro 30, 2006

Envilecimento

Hoje o sol ameaçou sair,
mas nuvens logo o dominaram
e com rápido esforço enterraram
um sonho finado do porvir.

E ao gris nosso corpo acostumado
vê anos que escorrem pelos dedos.
Se as chances perdidas viram medo,
radicais livres não são os culpados

por nosso envelhecimento.
A sombra que sempre nos testa
gorjeia cada vez mais no vento

e prolifera na luz sua fresta.
Eis que minha velhice aumento
se um sonho a menos me resta.

Marcus 30.01.06

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Roulette russe

Rápido arrisca
atira
mira
resta
rien à voir

Tento treino tenso
atiro
tiro
testa
tiens le voir

sento penso manso
suspiro
cesta
sesta
vamos comemorar!

Marcus 26/01/06

Isolado

Da janela vejo o nada
lá há noite iluminada
um salto para o vazio.

Frio, frio!

Não quero pensar em dinheiro.
Preciso dormir, mas
nos tentáculos dos lençóis
mora a luz que têm mil sóis.

Em minha mente sonolenta
a maré se arrebenta.
Alma que agora jaz,

verás do que sou capaz.

Marcus 26/01/06

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Shaft wannabe

Estou deixando o cabelo crescer, já há três meses. Estou tentando as costeletas também, mas tá difícil. É foda ser imberbe.

Hehehe, can you dig it?

Recados no comments

A dor me agita
bem quando sou seu
faz-me sair sem querer

ó dor maldita
dói duas vezes
mas só uma pra valer

se inflama e irrita
ela faz doer mais
por não poder mais te ver.

Marcus 03/04/05

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A melodia ecoa
reverbera ali, macia
e lentamente a noite vira dia

Marcus 02/03/05

quarta-feira, janeiro 04, 2006

As we were speaking of dreams...

...2006 é o ano da realização do sonho.

Fiquei intrigado ao fazer um balanço de 2005, que marcou uma nova fase pra mim. Um ano em que encontrei mais paciência para lidar com meus desafios, ainda que a impulsividade sempre tivesse funcionado. Foi ano da descoberta e geração de alguns e graves problemas, que não importaram nadinha. E da descoberta de algumas e gigantescas felicidades, que fizeram toda a diferença.

O ano começou tranqüilo desta vez, nada como o anterior, em que eu buscava novas perspectivas pra minha vida. Que por sua vez vai bem, obrigado. O 2006 envolve mudanças, transformações aparentes, mas não reais. O sonho segue desabrochando, encontrou nova lufada de ânimo em 2005. No ano passado, paramos pra respirar antes de mergulhar... agora já estamos embaixo d'água a procura de novos tesouros.

E seguimos sem medo de arriscar... já diria o glorioso Chewie, irmão e camarada de Bigode: "A vida é como um eterno pulo de pára-quedas".

Pra inspirar, segue o poema "A Pedra Filosofal", do genial português António Gedeão.

Abraços e feliz 2006 a todos!
Marcão
"Se a vida segue/ o sonho se persegue."

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Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

- António Gedeão, in "Movimento Perpétuo", 1956