sexta-feira, setembro 16, 2005

O vórtex

Me sinto como se fosse tentar fazer um teletransporte (?) e acabasse preso no limbo entre dois planos (!). Tenho uma realidade só minha! E ela fica no meu quarto, no computador, por horas a fio. Vem acompanhada de bossa nova, cerveja sem álcool e trabalho, muito trabalho. Pior ainda quando não é aqui e sim na prisão sem janelas, que não tem música nem nada, só o ruído de fungadas de pó no banheiro.

Resta saber se, quando eu sair daqui(s), a vida lá fora será a mesma.

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E o poeta/capitão-do-mato disse no loudspeaker: "Ponha um pouco de amor na sua vida". Pra não sofrer, até mudei pro Pixinguinha, que fala menos e chora mais com seus sopros.

Mas sei que ele está certo. Acho que é isso que está faltando.

2 comentários:

Anônimo disse...

a vida que te espera além, podes ter certeza, será muito melhor...

não vejo a hora de voltar a ver-te...

de verdade.

te amo muito, ma vie!

beijao

Anônimo disse...

Ha muito tempo escrevi isso... acho que de alguma maneira me lembrou...

Sargaços


O dia escorreu entre meus dedos, enquanto meu corpo indolente se demorava mais e mais no enorme e aconchegante sofa, mergulhado nos travesseiros e no silêncio libertário do apartamento vazio. Deveria ter quebrado essa inércia, saído, lido, andado por Paris... mas não havia realmente vontade. Não sinto mais os fios de aço da agonia mordendo minha carne e regando de sangue os textos. Tampouco há a euforia da liberdade ou a angústia de algum amor novo. Estou debruçado nas reticências de minha vida, em uma espera que não tem realmente um fim possível ou provável.
Nesses dias me limito a ser. Sou sem perguntas ou respostas. Sou olhos que vêem, lêem e aprendem um pouco. Sou uma memória que se detém nos delírios poéticos, nas alucinações eróticas e nos pequenos detalhes de uma vida que busca em si mesma uma razão para viver. Restos de palavras ecoam em meus ouvidos:
“Chocolates, menina... não ha maior resposta no universo do que chocolates”...
Chocolates, sim... Mas também o riso fácil e ligeiro, cheio de vida... Também a noite espalhada nos cabelos da Mariana, também o vento que enche uma vela e nos joga na água, também a música de uma jaboticabeira nas cordas imortais de Toquinho ou Baden Powell.
Correr em busca dos prazeres é tentador, mais do que qualquer outra coisa. Os olhos perseguem na paisagem o bem-estar, o amparo desses colírios únicos para cada um. Mas como uma espuma esquecida na arrebentação, prefiro me deixar levar. O sal tempera os momentos que trazem as marés, caóticos como meu próprio oceano. Já não existe mais reserva ou escolha: apenas o deixar levar nas correntezas da vida, arrastando comigo os sargaços das lembranças. O que encerram os horizontes? Apenas as estrelas, mudas em sua fria distância, sabem. Eu as sigo, mas para chegar aonde além de um outro lado para sempre perdido entre o aqui e o ali?

Te cuida, Marcão...

Alemão