quinta-feira, setembro 22, 2005

Surto feliz

Me peguei me equilibrando na guia
feliz por razão nenhuma
e eu ria sozinho no meio
da noite de bruma.

sexta-feira, setembro 16, 2005

O vórtex

Me sinto como se fosse tentar fazer um teletransporte (?) e acabasse preso no limbo entre dois planos (!). Tenho uma realidade só minha! E ela fica no meu quarto, no computador, por horas a fio. Vem acompanhada de bossa nova, cerveja sem álcool e trabalho, muito trabalho. Pior ainda quando não é aqui e sim na prisão sem janelas, que não tem música nem nada, só o ruído de fungadas de pó no banheiro.

Resta saber se, quando eu sair daqui(s), a vida lá fora será a mesma.

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E o poeta/capitão-do-mato disse no loudspeaker: "Ponha um pouco de amor na sua vida". Pra não sofrer, até mudei pro Pixinguinha, que fala menos e chora mais com seus sopros.

Mas sei que ele está certo. Acho que é isso que está faltando.

Ausência

Lembrei-me outro dia desse poema (afinal, ando ausente pra todos, e todos, pra mim...), do queridíssimo xará (M)VM, poeta e diplomata. Sabem que me chamo assim por causa dele? Mesma coisa para 90% de todos os Vs e MVs. E, sim, viva todos os Marcus Vinicius do mundo. Principalmente o autor dos versos aí embaixo, que morreu no dia 9 de julho de 1980. Pouco menos de cinco meses antes de deste que vos fala nascer.
Eta vida maluca... cuidado, companheiro! A vida é a arte do encontro... sem lugar para as ausências, ou para os desencontros da vida.

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Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

- Vinicius de Moraes, in "Forma e Exegese", 1935.

domingo, setembro 11, 2005

9/11

Acho que nunca é demais lembrar desse dia. Ao contrário de muitos, que vêem no ato uma resposta contra a opressão praticada em escala mundial, acho que o fato de cometer injustiças, mesmo que supostamente contra um agressor, não torna o perpetrador da ação uma pessoa menos injusta.

Fazer guerras (e matar pessoas que não têm nada a ver) e explodir bombas e aviões (e matar pessoas que não têm nada a ver) são ambos uma grosseira patifaria. Eu tive um amigo que era pra estar lá na hora do atentado e escapou porque se atrasou para o trabalho. Passei uns dois dias meio atarantado tentando falar com todos meus amigos e familiares que estão por lá. Lembrei da placidez da foz do Hudson contra o sol da manhã, os barquinhos indo e voltando, e pensei que podíamos ter sido eu e meu pai a morrer lá, nós que estivemos lá quatro anos antes.

Cheguei à conclusão de que ladrão que rouba ladrão não merece nem um minuto de perdão.

Sudoeste

Andou batendo na minha janela um vento estranho nesses dias. Ao que parece, um sudoeste.