sexta-feira, setembro 16, 2005

Ausência

Lembrei-me outro dia desse poema (afinal, ando ausente pra todos, e todos, pra mim...), do queridíssimo xará (M)VM, poeta e diplomata. Sabem que me chamo assim por causa dele? Mesma coisa para 90% de todos os Vs e MVs. E, sim, viva todos os Marcus Vinicius do mundo. Principalmente o autor dos versos aí embaixo, que morreu no dia 9 de julho de 1980. Pouco menos de cinco meses antes de deste que vos fala nascer.
Eta vida maluca... cuidado, companheiro! A vida é a arte do encontro... sem lugar para as ausências, ou para os desencontros da vida.

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Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

- Vinicius de Moraes, in "Forma e Exegese", 1935.

Um comentário:

Anônimo disse...

lindo!