Incomoda-me o sol, pinto de negro minhas janelas
para tentar esconder-me desde cedo
(na manhã da alma o sol sempre brilha mais)
os raios revelam os traços
as mesas não têm gavetas
O erguer do sol faz sombra sobre coisas belas
(e que coisas coleciono, rapaz)
mais que livros tenho segredos
tantos que os armários são rasos
e as camas parecem sarjetas
Vedo as portas, ponho cortinas, apago as velas
(vivo o que de vida é arremedo)
internalizo a expansão dos espaços
para que seja ignorado, tido por incapaz,
e a visibilidade não me acometa
Mas um dia eu quis ser visto, eu quis gritar,
quis mostrar que era belo,
limpo, transparente,
e vi que não era nada disso
nem era isso o que achava a gente
e pude esgoelar-me até o fim
e esgotei
enquanto caía a noite na alma
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